Na Juncta de Freguezia de
Bencatel, governa o Partido Communista Portuguez, alliado ao MUC. Na
opposição, está o Partido Socialista. É assim desde o 25 de
Abril.
A situação é um pouco
bizarra, original e incommum. Não há direita. Os socialistas fazem
figura de “reaccionários”. Talvez esta divisão se deva ainda ao
período do 25 de Abril, em que os communistas andaram agitados pela
aldeia, a occupar terras. Os socialistas são mais tolerantes do
capitalismo e da propriedade privada do que os communistas. Se bem
que o próprio regedor, o Cardoso, seja um pequeno empresário e
patrão. Por outro lado, os communistas talvez tenham uma relação
mais tranquilla com a Rússia, o que é bom já agora, e sejam mais
conservadores em termos de costumes. Mas enfim, a sua posição é no
máximo de defesa, não de contra-attaque. Na práctica, os dois
partidos defendem mais ou menos a mesma política. Se surgir uma
direita, ou Yahvé nos livre, um fascista reaccionário, alliar-se-ão
provávelmente de medo de acabar no Tarrafal.
Se virmos agora as últimas
eleições europeias de 2024, o resultado é o seguinte:
Partido Socialista: 42%
Partido Communista
Portuguez: 22%
Partido Social-Democrata:
15%
Chega: 7%
Iniciativa Liberal: 5%
Ou seja, a Esquerda, nesta
eleição de forma proporcional, teve mais de sessenta por cento dos
votos. Mesmo assim, os trez partidos de direita tiveram quaze trinta
por cento do voto o que é um resultado muito razoável. E também
note-se que o PC tem menos força do que parece: a juncta está em
perigo.
Como interpretar estes
resultados?
O bom lado: os bencatelenses
são generosos e não se importam de financiar o Estado-Social.
Gostam da Europa, e não querem que a Ucrânia collapse. Apesar de
haver, nesta aldeia que chamam Nova Moscovo, quem goste da Rússia. E
querem que as mulheres sejam bem tractadas, o que suppostamente os
perigosos machistas de direita não fazem. Também, não gostam de
patrões cabrões que exploram os trabalhadores.
Também se pode ver a coisa
do lado mau: são ladrões e querem que o Estado roube os
trabalhadores e patrões para lhes dar salários de funccionários
públicos e pensões de reforma. Aprovam todas as perversidades
sexuaes e familiares da modernidade, promovidas pela esquerda. E não
se importam de ver os seus filhos serem destruidos pela immigração
infinita que vem a caminho. São uns revoltados que não acceitam a
legitimidade dos seus patrões e que os vão lixar à primeira
occasião. Deixam-se intimidar, deixam de reflectir com
tranquillidade, quando houvem fallar da “dictadura”, quer seja de
Salazar ou de Putin. E têem a arrogância dos abrilistas que acham
que tinham legitimidade para pegar em armas contra o Estado Novo,
para continuar a cuspir-lhe em cyma 50 annos depois, sem nunca
assumirem que commeteram crimes, e offuscando-se muito contra
qualquer reaccionário que use dos mesmos méthodos violentos de que
são adeptos (basta lembrar que o 25-Alá-u-Akbar foi um golpe de
Estado militar).
Duas notas. A primeira sob
as más línguas de Bencatel. Ao longo dos annos assistiu-se a
pessoas que sahiam da terra porque se sentiam opprimidas pelos
cancans que se fazem sobre as pessoas e sobre os julgamentos
sumários, às vezes sem moderação, que isso implica. Há quem diga
que as pessoas são “racistas” no sentido que não acceitam
nenhuma diferença. Na política local é um facto que não há
pluralismo. É também de certa forma o que os protege contra os
forasteiros. Mas o “anti-fascismo” de Bencatel é uma treta. Há
mais reaccionários e amigos do Salazar do que se pensa (eu sei,
fallam commigo!), só que não se assumem de medo da aggressividade e
do fascismo dos... anti-fascistas. Estes últimos, quando apparecerem
duzentos pretos na aldeia, vão fazer como toda a gente: vão votar
fascista. O seu anti-racismo é um luxo hypocrita ou tonto que só é
permissível porque vivem numa aldeia racialmente pura. E depois,
francamente, o racismo é um phenómeno biológico inevitável. O ser
humano é macaco e quando vê outro bando que não o seu começa a
gritar e a saltar: tem que fazê-lo para se proteger. Pode ser um
crime, mas não é mais grave que tantos outros. É certamente menos
grave ser racista contra o Outro, do que traidor com os Nossos.
Sobre o racismo e o racismo
do anti-racismo, lembro-me duma discussão que tive um dia com o Quim
Zé. Elle acha muito mau o Chega, que no fundo o protege, por causa
da questão da immigração. Suggeri-lhe que fosse viver para a
Guiné, para abrir os olhos. Respondeu-me que “não é povo que me
interesse muito”. Tradução: o Quim Zé não se importa que os
lisboetas levem com pretos. Nem se importa de ouvir o Carlão na
Festa do Avante. Mas ir fazer uma pequena experiência colonial, na
terra delles, onde elles mandam, isso não... Pode-se levar a sério
essa mentalidade?
A segunda ideia é que não
há mal nenhum em ser de Esquerda. Mas só pontualmente. Às vezes
pode-se e deve-se tomar partido pelos trabalhadores, pelas mulheres,
pelos pobres e pelos forasteiros. O que é errado é ser
systemáticamente contra o heteropatriarchado branco, christão e
capitalista, sobretudo quando por natureza se faz parte delle. O
esquerdismo pode ser uma forma de anarchismo inimigo de qualquer
auctoridade. E qualquer pessoa que não seja idiota e corrupta vê
que é algo suicidário e traiçoeiro que vae ter como consequência
o genocídio afro-islâmico. É preciso defender a ordem natural,
viril e branca. Dar mais importância à liberdade do que à
egualdade.
Há uma boa dose de burrice
e de cobardia em Bencatel. Pensam mesmo que vão escapar aos perigos
no seu cantinho, e que não vão precisar de tomar partido! Ficaram
tão traumatizados com a falta de sardinhas no tempo do Salazar que
apanharam uma noia. E desde ahi as suas mulheres limpam a calçada
todos os dias, talvez para expiar os seus peccados. Just Joking, mas
a brincar a brincar dizem-se as verdades.
Agora, uma constatação,
nascida de experiência própria: esta Juncta de Bencatel, e o
Presidente-Regedor Cardoso, são corruptos e mesquinhos. Não
necessáriamente uma corrupção financeira (apesar de dar jeito
receber o salário de presidente estando ausente a maior parte do
dia). Antes, uma corrupção moral.
O regedor é cúmplice
sabido e consciente dos envenenamentos e perseguições psychiátricas
que eu, o Galhofas e outros soffremos por motivos políticos, há
mais de dez annos. É cobarde quanto à questão vital da guerra
russa, não mobilizando o povo, num sentido ou noutro (e já foi
interpellado nesse sentido). Assume-se como communista, quando hoje
em dia qualquer pessoa com um pouco de cultura sabe que essa
ideologia de ladrões fez dezenas de milhões de mortes e defende
roubar tudo, absolutamente todos os factores de produção – a
favor do Estado. Ou seja, lá está, quer pôr em commum o que é dos
outros. Na práctica não o fará, mas symbolicamente sim, porque
ainda não tentou provocar o aggiornamento do PC. Fecha a juncta ao
povo inteiro, porque a “perigosa fera” Pedro Hitlerinho anda à
solta nas ruas. Faz provavelmente boicotes – a mim – no Grémio à
assembleia do qual preside, e talvez na “Cosa Nostra”.
Ou seja, são todos muito
democratas é tolerantes até ao dia em que apparece alguém que lhes
explica que a democracia não é o único valor, nem o mais
importante. Coligam-se com ecologistas, mas permitiram a porcaria dos
painéis solares na freguezia, hectares, sem consulta popular. Não
gosta da burguezia, mas deixa-a privatizar todos os caminhos do
concelho (qualquer dia é preciso pagar portagem para ir à Villa). E
no fundo para mamar uns subsídios associativos – o que toda a
gente gosta – é preciso ir na lenga-lenga dos partidos
representados na assembleia. Também, em vez de deportar povos
inteiros como o Staline, trabalha para importá-los aos milhôes,
porque não faz guerra à sede lisboeta do partido, que ainda há
dias estava a promover trabalho para uma brutalidade de funccionários
na AIMA (nem o systema de saúde defendem assim...). Também, é de
duvidar que quem está à volta do PC de Bencatel seja muito íntegro
e corajoso. Ser communista em Bencatel não é o mesmo que sê-lo no
tempo do Franco. Aqui são elles que têem o poder, e que distribuem
os tachos.
Ou seja, o PC está onde
tantas vezes esteve: do lado da traição. Jà não têem a força
que tiveram noutros tempos, e num sentido não valle a pena batter no
ceguinho. Mas enfim, é o que é. Cinquenta annos depois do Cunhal, e
cem annos depois do Lenine, ainda não foram capazes de repensar os
seus princípios duma certa ideia de “demo-kratos”.
É uma “democracia”
sui-generis: uma minoria que assumiu poderes maioritários. Talvez
mesmo, uma maioria de minorias! Um governo de democratas que têem
medo de ideias e partidos concorrentes. São mais ideólogos do que
democratas no fundo.
No fundo, o que Bencatel
precisa é de outra democracia. É preciso gente com pachorra para
partir pedra, inserir-se nas associações da freguezia com ideias
próprias e independentes, e fazer uma modesta listinha às próximas
eleições autárchicas. Não é para ganhar, é só para ter um ou
dois assentos na assembleia. Para vigiá-los. Para fazer umas
suggestões. Desanuviar a atmosphera. Mudar de cabrões. Polarizar a
coisa numa primeira phase, sabendo bem que no final vae nascer uma
synthese esquerda-direita, que não é nada mais do que o fascismo.
A solidariedade mais do que o socialismo.
Senão fôr assim o que
pensar? Que é preciso um motim na aldeia?!
PENICHE SEMPRE!